domingo, 14 de agosto de 2011

Mais educação Menos policia

Ser um cidadão é um titulo social desta forma cabe a sociedade delimitar regras em forma de leis para que cada cidadão tenha seus diretos e deveres preservados.
Gouvêa (2002) afirma que não basta nascer para ser um cidadão, a cidadania e seus direitos devem ser reconhecidos pelas autoridades e pelo indivíduo. Para ser um cidadão há a necessidade da consciência de seus deveres e direitos dentro da sociedade. Cabendo aos educadores uma reflexão sobre o processo de conscientização desta cidadania, da busca de valores humanos universais e da ética.

Covre (1991) recorre à Carta de Diretos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) de mil novecentos e quarenta e oito que afirma ser cidadão aquele que tem direitos e deveres, que é súbito e soberano, que possui o direito a uma vida digna com acesso a saúde, educação, habitação, lazer, domínio sobre seu corpo e vida, liberdade de expressão, de se agregar livremente de acordo com o seu credo religioso e político, igualdade diante da lei independente de sua origem, raça ou credo. O homem tem como dever ser o propiciador dos direitos do outro, de si mesmo e de todos, seguir normas estabelecidas em conjunto para beneficio da sociedade, tem o dever de exigir que os direitos de todos sejam cumpridos, através dos movimentos sociais e organizações que possui como arma a constituição federal que reflete mais ou menos a Carta Universal de acordo com o interesse político de cada região ou país. No entanto só existe cidadania na prática de exigir e reivindicar para o beneficio de todos, sujeitos da conquista de seus direitos e deveres.
Para Hroni (1997) o objetivo da educação esta baseado em atender e servir a comunidade, favorecer o trabalho coletivo para um bem comum, todo individuo precisa aprender a viver dentro das constantes mudanças sociais, políticas e econômicas, se ajustar aos diferentes tipos de políticas governamentais e exigir seus direitos e exercer seus deveres, baseado nesta visão pode-se dizer que as instituições educativas devem te um papel político social.


“A cidadania e a formação dos cidadãos passa cada vez mais pela capacidade de criar pontes entre universos como o da escola e a mídia e, hoje, o das redes globais de comunicação”.

De acordo com Franco (1995), para ser um cidadão não basta informação, a cidadania é construída na compreensão das relações de poder existentes na sociedade como também conhecimento dos mecanismos que favorecem a participação consciente na atuação pública.
Nogueira (1995) afirma que a cidadania pode ser vista como incorporação de grupos e indivíduos que buscam elevação nas condições de vida em sociedade, apropriando-se de direitos e garantias, variando de região para região acompanhando a dinâmica democrática e econômica.
Para Tedesco (1998) o sentido de nação, democracia e cidadania são conceitos interiorizados socialmente, são ensinados e aprendidos, não através de conceitos, mas na vivência social. Como a educação é hierarquizada através de níveis de escolaridade, o indivíduo também se projeta socialmente dentro desta hierarquia estabelecendo estágios de atuação e poder. Existe uma dissociação crescente em relação ao poder de decisão e a atuação. Cada vez mais cedo jovens precisam tomar decisões que eram anteriormente feitas pela família, igreja ou estado ao passo que sua atuação no mercado de trabalho esta se concretizando cada vez mais tarde devido as políticas econômicas, dificuldades do mercado e longos períodos escolares, conflitando pontos de vista e atitudes. O desenvolvimento da capacidade de escolher faz parte da ação cidadã que implica em uma prática. Assim sendo escola é a principal instituição para o ensino da ação cidadã em sua totalidade com base no bem e interesse comum, refletindo o conflito entre a racionalidade e subjetividade da sociedade cabendo a ela encontrar a articulação entre estes dois pontos: poder de escolha e ação.
Tedesco (1998) estabelece que a nova demanda da escola inclui meios de favorecer a formação pessoal do indivíduo através de uma personalidade cidadã, assim a escola passa a ser uma instituição de formação total do individuo.

“A escola, enquanto instituição social, tem como principal função preparar os membros da sociedade para a totalidade da vida social. Cabe a ela propiciar ao individuo condições de igualdade em relação ao acesso ao conhecimento para que eles como cidadão consciente e ativos, tornem-se agentes da história”

Benevides (1995) alega ser a educação que estabelece a igualdade na luta pela conquista de oportunidades e a base da democracia. A educação e o agente transformador na sociedade visão que retrata o Brasil nas décadas de vinte e trinta com grandes interesses pela educação de qualidade para todos. Porem afirma ter fatores que dificultam uma política democrática e cidadã:
• O regime político, que demonstra falta de interesse em uma educação flexível e democrática;
• Dependência de valores e costumes elitistas e autoritários;
• A não democratização do ensino, a qual se separa ensino de qualidade e ensino público, escola para ricos e pobres.

A educação para ética e cidadania baseá-se na formação pela valorização e desenvolvimentos das virtudes republicanas, virtudes democráticas, e virtudes cívicas ligadas aos fins de cada ação e não aos meios.
Para Pino (1995) a construção do cidadão só ocorre na ação entre a vida social e política que são estabelecidas na:

• Necessidade do reconhecimento de si e do outro como um cidadão;
• Querer exercer e poder exercer o direito que lhe cabe;
• Como ação a cidadania deve ser exercitada de forma reflexiva
• O pleno direito de ser cidadão implica na real execução e exigência deste direito.

De acordo com estas afirmativas Pino nos coloca que a escola não é o único local de práxis da cidadania mas e a principal instituição de sua ação, visto seu aspecto de socialização e acessibilidade ao conhecimento.
Sendo assim, podemos concluir que é voltando o olhar para educação é que teremos uma sociedade mais justa e humana, com sujeitos pleno de seu papel de cidadão. quanto maior o compromisso com a educação de jovens e adultos menor a necessidade de punição do adulto.

Referencias Bibliográficas:

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Priscila Genaro é professora da rede municipal de ensino desde 1996,
Graduada em Licenciatura para o Ensino Fundamental pela USP
(Universidade de São Paulo).
Pós Graduada em Gestão Escolar



4 comentários:

  1. O texto é interessante mas faço ressalvas. Concordo plenamente que a educação é chave para uma sociedade cidadã, menos violenta, mais solidária. A educação tem papel transformador aliados a outros fatores sociais, como saúde, moradia, trabalho.
    Quanto a Polícia, não há Estado sem a figura dessa Instituição. Afinal, não há liberdades absolutas e sendo assim há que se existir regras e há aqueles que irão transgredí-las.Muitas vezes isso independe de conhecimento.
    A polícia desempenha o papel físico de regulador das ações contrárias ao ordenamento vigente. Talvez o "menos polícia" soasse melhor como "menos intervenÇão policial". Só a educaÇão não garante a continuidade do Estado. A polícia é órgão de repressão, infelizmente, mas caminhamos ou tentamos que seja órgão de prevenÇão criminal, com certeza não é órgão de punição.

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  2. Concordo plenamente com a Tania em seu comentário, pois apesar da educação estar na base de muitas mudanças, sozinha demonstra que é incapaz de promover paz social plena.
    Apenas para não me alongar podemos observar o ocorrido na Noruega com uma das maiores taxas de educação e desenvolvimento no mundo, onde a tragédia perdurou em face da demora da intervenção da POLíCIA!! E os acontecimentos recentes na Grã-Bretanha? Apenas para lembrar casos mais recentes.
    Como bem colocou em seu comentário não existe sociedade sem polícia, o que existe é uma menor intervenção do Estado e isso é cediço na comunidade acadêmica responsável por brilhantes idéias neste sentido,como também cientistas políticos, filósofos, etc. Abraços.

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  3. Acredito que a educação é a base de uma sociedade justa e igualitária. Mas não a educação apenas dos livros, mas sim aquela que lidera movimentos sociais e busca a liberdade e o respeito ao direitos humanos.
    A educação que liberta as classes oprimidas da opressão e da massificação da política neoliberal e consumista em que vivemos nos dias de hoje.
    Penso que no título está implícito o desejo de um Estado menos opressivo, pois ele usa a polícia também para eliminar o produto de sua ineficiência.

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  4. Ao que vejo os colegas não leram o texto na integra, pois em nenhum momento coloquei neste texto a inexistência da policia mas a necessidade de voltar o olhar para a educação integral do ser humano desde sua infância, como repito onde a mais educação em todos do aspectos da formação do individuo,e não apenas instituições escolares, a ação repressora da policia se faz menor, pois seres humanos plenos de sua ação no mundo não precisam ser punidos. Como digo no último paragrafo "é voltando o olhar para educação que teremos uma sociedade mais justa e humana, com sujeitos pleno de seu papel de cidadão, quanto maior o compromisso com a educação de crianças e jovens menor a necessidade de punição do adulto". E mesmo por que quem diz que um pais rico economicamente educa os seus de forma a lhe assegurar a conscientização de seus atos diante do mundo, o erro do vizinho não justifica os meus. Transmissão de conhecimento não é educação.

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