terça-feira, 9 de agosto de 2011

50 mil dossiês desnudam a central tucana de dossiês: arapongagem criminosa

Caros leitores, nosso blog não tem cunho político, mas muitas vezes vai enveredar esse caminho porque nossas instituições de segurança pública são, infelizmente, administradas ao revés da política.
Ora uma legenda ora outra estão no domínio do cenário nacional.
Se politizar é hoje uma necessidade da sociedade e não prerrogativa de qualquer entidade ou classe social.
Em São Paulo, nosso Estado, há décadas não vemos mudanças que não insignificantes para a classe dos profissionais de segurança. Estamos cansados das mesmas estórias, engodos e ainda aguentamos a responsabilidade que nossa atividade impõe como "braço armado" do Executivo. Errando e acertando como quaisquer indivíduos buscamos nossos direitos e cumprimos com obrigações e principalmente nosso dever.
Motivo pelo qual, por dever de informar e pensar, deixamos essa reportagem aos nossos amigos.

fonte: http://pragmatismopolitico.blogspot.com



50 mil documentos desnudam a central tucana de dossiês: arapongagem criminosa

Reportagem da revista IstoÉ revela como o PSDB se serviu do dinheiro do contribuinte para 
monitorar ilegalmente seus opositores, sobretudo o PT e os movimentos sociais. Até agora, a 
grande imprensa misteriosamente se mantém calada.

 Agentes infiltrados em movimentos sociais, centenas de dossiês sobre partidos políticos, relatórios 
minuciosos com os discursos de oradores em eventos políticos e sindicais. Tudo executado por 
policiais, a mando de seus chefes. Estas atividades, típicas da truculenta ditadura militar brasileira
ocorreram no Estado de São Paulo em plena democracia, há pouco mais de dez anos.

Cerca de 50 mil documentos, até então secretos e que agora estão disponíveis no Arquivo Público 
do Estado, mostram como os quatro governadores paulistas, eleitos pelas urnas entre 1983 e 1999,
 serviram-se de “espiões” pagos com o dinheiro dos contribuintes para monitorar opositores.

Amparados e estimulados por seus superiores, funcionários do Departamento de Comunicação 
Social (DCS) da Polícia Civil realizavam a espionagem estatal. Até o tucano Mário Covas, um dos 
maiores opositores do regime militar e ele mesmo vítima de seus métodos autoritários, manteve a 
“arapongagem” durante todo o seu primeiro mandato e por um período de sua segunda gestão. 
Entre os alvos preferidos na administração do PSDB aparecem o PT e a Central Única dos 
Trabalhadores (CUT), organização sindical fundada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 
Há dezenas de dossiês com informações sobre as duas entidades e seus principais expoentes.
 Já as investigações a respeito dos tucanos e seus aliados foram suspensas a partir de 1995, quando 
Covas assumiu o governo de São Paulo.


A classificação dos documentos, que vieram à tona em uma reportagem publicada pelo portal IG,
deixa claro como a polícia a serviço dos políticos paulistas se utilizou exatamente das mesmas práticas
que fizeram a fama dos órgãos de repressão militar. As informações coletadas eram organizadas em
fichas por códigos alfanuméricos, como no temido Departamento de Ordem Política e Social (Dops),
onde opositores do golpe de 1964 foram alvo de interrogatórios e sessões de tortura. Tarimbados
profissionais do extinto Dops integravam também a equipe do Departamento de Comunicação Social
da Polícia Civil. Delegados 
de cidades paulistas foram orientados a reportar qualquer acontecimento político-social ao DCS. 
Codinomes e infiltrações em assembleias grevistas também faziam parte da rotina dos agentes, que 
relatavam os acontecimentos aos superiores. Em um dos dossiês sobre a CUT, os investigadores 
autodenominados Gama 30 e Gama 38 relatam a tentativa frustrada de participar de uma assembleia 
dos funcionários da Fundação Florestal do Estado de São Paulo em 13 de março de 1995. Dizem que “cumpriram a determinação”, mas foram barrados por uma moça na portaria. Os crachás de
empregados temporários de que dispunham os agentes trapalhões não eram aceitos na entrada.

Os agentes eram enviados para acompanhar até eventos públicos. “Em cumprimento à determinação 
de V.S., assistimos no local e constatamos a presença de aproximadamente 250 pessoas juntamente 
com um carro de som e de uma perua Kombi”, relatam os agentes Gama 45 e Gama 55 sobre 
manifestação da CUT realizada no dia 10 de março de 1995, na Praça da Sé, em São Paulo. 
No documento ainda identificam os proprietários dos veículos pelas placas e fazem questão de
mencionar que o hoje deputado Vicente Paulo da Silva (PT-SP), o Vicentinho, presidente na época
da entidade  sindical, discursou no evento. Essa seria apenas uma das diversas arapongagens contra a
Central Única dos Trabalhadores na gestão Covas.

Em algumas tentativas os arapongas paulistas pareciam conseguir antecipar alguma coisa. “A CUT e 
entidades alinhadas estão articulando para os dias 06, 07 ou 08/03/99, Praça da Sé, um grande “Ato 
Público” contra o desemprego e arrocho salarial. Distribuirão no ato, entre outros, o panfleto “Bloco
do Bode”, que segue abaixo”, informa o documento sem assinatura ou destinatário. Em seguida, junto
de recortes de jornal confirmando a manifestação, há uma lista com 15 policiais designados para ficar
de plantão. Procurado pela reportagem de ISTOÉ, Vicentinho mostrou-se perplexo com a espionagem:
 “Na época do Covas, eles ainda faziam isso? Achei que tinha parado na ditadura. É inimaginável”, 
diz o ex-líder sindical. “É um absurdo gastar dinheiro público para violar a privacidade das pessoas,
 ainda mais com interesse político. Graças a Deus nada disso interrompeu a consolidação da
democracia”, complementa.

Em tempos tucanos, o Partido dos Trabalhadores (PT) virou o principal alvo. Há pilhas e pilhas de 
documentos produzidos pelo Departamento de Comunicação Social (DCS) a respeito da sigla. 
Convenções, disputas internas, gestões municipais do partido e informações das principais lideranças 
e dos possíveis candidatos a eleições majoritárias eram coletadas pela “polícia política” em plena
década de 90. Os nomes do ex-presidente Lula e da hoje senadora Marta Suplicy (PT-SP), que
disputaria com Covas o primeiro turno da corrida pelo governo de São Paulo em 1998, aparecem
constantemente nos  “dossiês PT”. Já para Antônio Palocci, prefeito de Ribeirão Preto no período,
criaram um dossiê exclusivo. 
Na pasta, o ex-ministro é apresentado como uma figura em ascensão no partido e favorável a
privatizações.
Segundo o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio de Janeiro, Wadih Damou,
as atividades realizadas pelo Departamento de Comunicação Social da Polícia Civil do Estado de São
Paulo são ilegais, violam a Constituição e devem ser investigadas com extremo rigor. “Causa mais
repulsa ainda que tenham sido feitas em um período democrático. Nunca vi nada parecido. Fico
preocupado e penso se isso não continua acontecendo.” O DCS, pelo menos, acabou extinto em 24
de novembro de 1999. 

Pedro Marcondes de Moura - Revista IstoÉ




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