Seja qual for a resposta, precisamos modificar nosso conhecimento a fim de proporcionar a sociedade a segurança jurídica que necessita. Já não cabe situações de erros de julgamento da pessoa incumbida em proporcionar segurança. Não cabe também prejulgamento da sociedade, a nosso desfavor. Quando agimos baseados no senso comum, permitimos também, que sejamos julgados por esse mesma verdade sabida, histórias antigas de violência e aviltamento da pessoa sob o escopo da proteção do Estado.
A mudança deve partir de todos.
Da série Crônicas do Crime - Atitude Suspeita
do blog-sem-juizo
Uma coisa que eu sempre tive curiosidade de entender é a “atitude suspeita”, o que
leva policiais em patrulhamento a abordar certas pessoas, e não outras.
Quando ouvimos os relatos no Fórum, temos a nítida impressão de que eles sempre acertam –afinal, se virou um processo, a atitude era mesmo suspeita.
Não levamos em conta, lógico, todo aquele contingente de pessoas vigiadas, abordadas, revistadas que não resulta em prisão nem em processo.
Muitas vezes eu pergunto aos policiais: mas qual era a atitude suspeita?
As respostas são as mais diversas e até contraditórias.
O sujeito estava andando em uma direção e passou a andar em outra. Ele estava parado e, então, começou a andar, ao vir a viatura. Quando nós passamos, ficou completamente parado e não saiu do lugar.
A reação facial também é determinante da suspeita: seus olhos mostravam nervosismo, quando nos viu. Ele abaixou a cabeça quando olhamos para ele. Fingiu que não era com ele e continuou olhando para outro lado. O rapaz me encarou de frente, doutor, quando o encarei. E por aí vai.
O medo parece ser o principal combustível da suspeita, segundo o tão comentado “tirocínio policial”. Mas será que em certas situações, o medo não é provocado pelo próprio tirocínio?
Marcos Roberto não foi abordado por um policial. Mas por um agente de segurança ferroviário. Algo como um ‘policial’ da companhia de trens. Talvez sem o mesmo tirocínio. Talvez exatamente com ele.
Foi no mesmo contexto em que Suzana, uma mulher de trinta, se tanto, foi encontrada com uma porção de cocaína do tamanho de uma bola de tênis dentro de sua bolsa.
Eu não consegui saber se Suzana e Marcos se conheciam. Os agentes ferroviários também não.
Suzana entrou em um vagão de trem. Os agentes entraram atrás. Antes que o trem desembarcasse, ela mudou de vagão, despertando a suspeita dos seguranças e disparando o alarme do tirocínio.
Na estação seguinte, os agentes mudam de vagão e encontram Suzana sentada. Encaram-na e recebem como resposta um abaixar de olhos. O comportamento estranho de trocar de vagão, o medo no olhar e pronto, a decisão de abordá-la estava tomada. Na revista da bolsa, bingo, a droga, que ela afirmava portar para uso pessoal.
Mas o leitor pode estar se perguntando a essa altura: e Marcos Roberto, o que tem a ver com isso?
Foi exatamente o que eu perguntei.
Marcos não estava conversando com Suzana.
Não estavam sentados juntos.
Não estavam se olhando, enquanto o trem andava.
Abordado com os olhos, Marcos Roberto não abaixou a cabeça. Encarou os agentes, assim, como quem não tem medo nem nada a dever.
Por que, então, a atenção dos seguranças?
-Bom, doutor, começou um dos agentes, ele era negro, né, ..?
Diante do olhar estupefato de todos nós e depois de um constrangedor minuto de silêncio, o segurança emendou com explicações desencontradas:
-Estava no vagão, estava meio próximo dela assim, o senhor sabe como é, pareceu intranquilo, olha, doutor, mesmo se fosse branco...
O outro agente, mais discreto ou mais precavido talvez, disse que o que chamou mesmo a atenção da segurança foi o fato dele estar ... suando.
Marcos Roberto foi abordado, revistado e, depois de descoberto que já tinha passagens pela polícia, encaminhado à delegacia, de onde foi finalmente liberado.
Até uma próxima abordagem, onde continue despertando “suspeitas”...
Uma coisa que eu sempre tive curiosidade de entender é a “atitude suspeita”, o que
leva policiais em patrulhamento a abordar certas pessoas, e não outras.
Quando ouvimos os relatos no Fórum, temos a nítida impressão de que eles sempre acertam –afinal, se virou um processo, a atitude era mesmo suspeita.
Não levamos em conta, lógico, todo aquele contingente de pessoas vigiadas, abordadas, revistadas que não resulta em prisão nem em processo.
Muitas vezes eu pergunto aos policiais: mas qual era a atitude suspeita?
As respostas são as mais diversas e até contraditórias.
O sujeito estava andando em uma direção e passou a andar em outra. Ele estava parado e, então, começou a andar, ao vir a viatura. Quando nós passamos, ficou completamente parado e não saiu do lugar.
A reação facial também é determinante da suspeita: seus olhos mostravam nervosismo, quando nos viu. Ele abaixou a cabeça quando olhamos para ele. Fingiu que não era com ele e continuou olhando para outro lado. O rapaz me encarou de frente, doutor, quando o encarei. E por aí vai.
O medo parece ser o principal combustível da suspeita, segundo o tão comentado “tirocínio policial”. Mas será que em certas situações, o medo não é provocado pelo próprio tirocínio?
Marcos Roberto não foi abordado por um policial. Mas por um agente de segurança ferroviário. Algo como um ‘policial’ da companhia de trens. Talvez sem o mesmo tirocínio. Talvez exatamente com ele.
Foi no mesmo contexto em que Suzana, uma mulher de trinta, se tanto, foi encontrada com uma porção de cocaína do tamanho de uma bola de tênis dentro de sua bolsa.
Eu não consegui saber se Suzana e Marcos se conheciam. Os agentes ferroviários também não.
Suzana entrou em um vagão de trem. Os agentes entraram atrás. Antes que o trem desembarcasse, ela mudou de vagão, despertando a suspeita dos seguranças e disparando o alarme do tirocínio.
Na estação seguinte, os agentes mudam de vagão e encontram Suzana sentada. Encaram-na e recebem como resposta um abaixar de olhos. O comportamento estranho de trocar de vagão, o medo no olhar e pronto, a decisão de abordá-la estava tomada. Na revista da bolsa, bingo, a droga, que ela afirmava portar para uso pessoal.
Mas o leitor pode estar se perguntando a essa altura: e Marcos Roberto, o que tem a ver com isso?
Foi exatamente o que eu perguntei.
Marcos não estava conversando com Suzana.
Não estavam sentados juntos.
Não estavam se olhando, enquanto o trem andava.
Abordado com os olhos, Marcos Roberto não abaixou a cabeça. Encarou os agentes, assim, como quem não tem medo nem nada a dever.
Por que, então, a atenção dos seguranças?
-Bom, doutor, começou um dos agentes, ele era negro, né, ..?
Diante do olhar estupefato de todos nós e depois de um constrangedor minuto de silêncio, o segurança emendou com explicações desencontradas:
-Estava no vagão, estava meio próximo dela assim, o senhor sabe como é, pareceu intranquilo, olha, doutor, mesmo se fosse branco...
O outro agente, mais discreto ou mais precavido talvez, disse que o que chamou mesmo a atenção da segurança foi o fato dele estar ... suando.
Marcos Roberto foi abordado, revistado e, depois de descoberto que já tinha passagens pela polícia, encaminhado à delegacia, de onde foi finalmente liberado.
Até uma próxima abordagem, onde continue despertando “suspeitas”...
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