terça-feira, 24 de maio de 2011

O degradante trabalho policial

Uma preliminar: minha total solidariedade às vítimas da brutalidade policial e minha repulsa ao policial infrator, torturador e que estabelece a condenável promiscuidade com o crime organizado. Eu mesma já fui vítima... seja, na minha adolescência, com o assassinato do meu irmão Cosme Luiz – com vários tiros de espingarda calibre 12 – seja contra o meu próprio corpo e minha dignidade pessoal e política. Mas explicito da mesma forma e intensidade a minha solidariedade aos policiais que perderam suas vidas ou foram mutilados na tentativa de exercerem com dignidade as suas atribuições em precárias condições de trabalho.


É incontestável que em todos os setores da sociedade existem os que devem ser chamados de imprestáveis, mas também os que dignificam suas profissões e honram as instituições em que trabalham A maioria dos trabalhadores das polícias tenta zelar pelo cumprimento dos seus deveres mesmo diante das gigantescas dificuldades enfrentadas.

A situação de civis e militares na área de segurança pública constitui uma das maiores aberrações do aparato estatal em Alagoas e em outras unidades da Federação. Daí a urgência em garantir melhoria das condições de salário e trabalho para todos (as) que são expostos a riscos para o cumprimento das suas obrigações profissionais.

Existem no cotidiano desses profissionais gravíssimas situações de degradação que de forma inimaginável estão corroendo a vida de homens e mulheres que são submetidos a essas ocorrências para o complexo desenvolvimento das suas atividades. São muitos os fatores que mostram a imensa diferença entre a organização do trabalho prescrito e a vivência do trabalho real lidando diretamente com a vida... situações extremas em que se pode tirar a vida de outro e se pode perder a própria vida, sendo ao mesmo tempo fonte e alvo da violência e experimentando diariamente grandes perdas emocionais e materiais que podem acabar por gerar mais violência.

A degradação acontece pelo cotidiano de longas jornadas de trabalho perigoso e exaustivo, de recursos materiais insuficientes, de insatisfação com a atividade e a remuneração, de dificuldades na ascensão profissional e muitos outros eventos traumáticos que levam à depressão, ao alcoolismo e uso de outras drogas psicotrópicas, a problemas cardiovasculares, transtornos psiquiátricos graves. Todos esses fatores constituem risco permanente para os trabalhadores e suas famílias e impactam negativamente no exercício das atividades essenciais na segurança pública.

O mais grave é que, além do processo degradante no cotidiano das suas atividades institucionais, os períodos de folga, licença ou férias não conseguem ser plenamente utilizados para recuperação física e emocional. Os policiais têm o dever de agir – flagrante compulsório e não facultativo – em situação de flagrante delito em qualquer momento, independentemente de estarem ou não no exercício da sua atividade funcional, o que lhes gera mais sobrecarga. Além disso, os miseráveis salários recebidos por eles acabam levando-os ao exercício de atividades laborais complementares (os “bicos”) em muitas vezes comprometendo sua imparcialidade nas decisões e fragilizando mais ainda a sua atuação no exercício profissional e a sua própria segurança pessoal.

As propostas são muitas e delas já tratei detalhadamente em artigo neste mesmo periódico como contribuição ao debate sobre alternativas para redução da violência em Alagoas e no Brasil, seja relacionada às Políticas Sociais ou à estruturação do Aparato Institucional de Segurança Pública. E continuo lutando, mesmo sabendo que a maioria dos agentes públicos não trabalha verdadeiramente por isso, e se comporta cinicamente como políticos bandidos protegidos por seus carros blindados e seguranças armados. Mas, o atual momento, a intensidade da precarização nas condições de trabalho e a indignidade salarial nas polícias impõem a agilidade da aprovação no Congresso Nacional das propostas relacionadas ao Piso Salarial para os Servidores Policiais (a PEC 300 e outras extensivas aos bombeiros, policiais civis e agentes penitenciários) e implementação imediata de política salarial de recuperação da dignidade profissional na área da segurança pública.

Ex-senadora, Heloísa Helena é vereadora do PSOL em Maceió.

Fonte: Jornal do Brasil

2 comentários:

  1. Obrigado, José Marcelo!

    Iniciamos um trabalho árduo por um novo modelo de segurança pública. Não sei onde chegaremos, mas com certeza, será melhor do que temos agora.

    Abraços.

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  2. Antes da mais nada gostaria de agradecer imensamente suas contribuições junto ao nosso Blog. Obrigado!
    Não obstante ao problema da segurança pública é notório que o modelo que existe está falido, pois o ingresso se dá de maneira equivocada, a formação também, desta forma é necessário que a pressão venha da opinião pública para efetivas mudanças, haja vista que o governo se satisfaz com este modelo, na medida em que controla a polícia com o regime militar que impede a luta por melhores condições de trabalhao e reivindicação de melhores salários. Por isso é cada vez mais urgente a união de todos nós que integram a segurança pública no Brasil.
    Abraços!
    Parabéns!

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