sábado, 21 de janeiro de 2012

REPRESSÃO, DOR E LIÇÕES

Concordem ou não, fazer alguma coisa é melhor que nada fazer. Desta feita, entendemos que apesar da operação iniciada pela Polícia Militar ter cunho repressivo ao menos obrigou toda a sociedade a pensar no assunto e buscar soluções, no mínimo criou-se uma discussão a respeito. Exigir que as instituições de Segurança deem uma solução a curto prazo para um problema que remonta mais de duas décadas é ingenuidade. Infelizmente nosso sistema policial trabalha repressivamente e essa é outra questão. O tráfico de entorpecentes ultrapassa as fronteiras nacionais, portanto precisa de um trabalho unindo forças estaduais e federais. Já a Cracolândia (criamos um substantivo próprio para o local!!) é um caso crônico  e não se resolve tão somente com Segurança, como todos sabem,  envolvendo áreas multidisciplinares e muita vontade política e participação da sociedade.  

REPRESSÃO, DOR E LIÇÕES

por José Ricardo Dias
Jornal O Diário de S. Paulo 18/01/2012

Uma expectativa desanimadora sobre o futuro dos dependentes químicos, antes se concentrados na Cracolândia, é predominante para aqueles que assistiram à operação da Polícia Militar. Afinal, a abordagem, iniciada no dia 03, não apenas se limitou a ser repressiva como também desordenada. Isso porque se antes a distribuição de drogas era concentrada em um local, agora os diversos dependentes e traficantes se espalharam para todos os lados do centro da cidade de São Paulo, assim agravando a sensação de insegurança aos munícipes.
Não se questiona a necessidade de intervir na Cracolândia, que desde a década de 90 age como o comércio do crime em céu aberto.

Contudo, sem uma convergência de esforços entre Prefeitura de São Paulo, Governo do Estado e Governo Federal, todos unindo as pastas de Segurança e Saúde, a ação se torna inócua. Inclusive, avalio como, ilusório pensar que os usuários busquem o tratamento com base na “dor e sofrimento”.

Um dependente de Crack, cuja vida está dilacerada em decorrência da substância, dificilmente terá discernimento em avaliar se o tratamento é o melhor caminho a ser tomado. Pelo contrário, a tendência é testemunharmos reações violentas por parte de usuários e a procura pelo produto em diversos pontos da cidade. E convenhamos: há muitos locais que comercializam drogas em nossas cidades, inclusive, no ABC Paulista. Sobretudo, os arredores da Cracolândia não têm sequer um Centro de Reabilitação para Dependentes Químicos.

Ao invés de uma mera ocupação da PM, o Poder Público precisa adotar uma série de medidas para cortar o mal pela raiz. Primeiro é saber de onde vem essa droga para impedir que chegue ao seu destino final, que geralmente é uma grande cidade (e o ABC Paulista se encontra neste cenário). Segundo, a ocupação da Cracolândia deveria ser acompanhada por profissionais da área da saúde. No entanto, dias após o início do projeto, não vemos um cenário animador.

José Ricardo Dias é vereador de Santo André pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro)
Posted on 20/01/2012 by Clínica Alamedas

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