segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A diferença abissal entre ensino público e privado no Brasil também se reflete no quesito segurança

Gostaria de aproveitar a oportunidade para fazer algumas considerações que me parecem pertinentes em relação ao momento em que vivemos na área de Segurança Pública.
Invariavelmente ouvimos,do poder público estadual,que a Polícia de São Paulo é a melhor do Brasil, pois bem,  se analisarmos profundamente a questão poderemos observar que isso não serve de parâmetro a qualquer órgão de segurança de uma grande metrópole, haja vista que as condições sócio-econômicas encontradas em nosso estado em comparação com Acre, Pará, Piauí, etc, são diametralmente opostos.
Todavia, as condições de trabalho, formação e modernização do aparato policial, não nos parece adequado diante da crescente demanda por segurança frente a inércia e a estagnação do trabalho policial, pois podemos afirmar que a situação não se encontra pior em termos de demonstração de ineficiência em razão da explícita ausência de concorrência.
Porém, devemos imaginar que a velocidade com que a sociedade se moderniza essa realidade de concorrência pode mudar, ou seja, efetivamente novas empresas de segurança poderão surgir com propostas bem diferentes da atualmente existentes, como poderemos constatar com o texto postado a seguir, onde uma empresa privada é responsável por levantamento que deveria ser privativa dos órgão de segurança estatal e dissemina técnicas e soluções.



A diferença abissal entre ensino público e privado no Brasil também se reflete no quesito segurança



Só 17,8% das escolas da rede oficial têm câmeras instaladas, ante 72% no caso dos colégios particulares


por Branca Nunes - em 05/05/2011


Para Ricardo Chilelli, especialista em análise e gestão de risco, a instalação de detectores de metal nas escolas, como sugere o projeto de lei do deputado Sandro Mabel (PR-GO), é uma proposta “cara, invasiva, contraproducente e inviável”, típica daqueles que pouco entendem de segurança.



A desigualdade social no Brasil não se reflete apenas na qualidade do ensino. Está presente também na segurança das escolas. São pouquíssimos os colégios públicos que possuem ao menos dois dos quatro itens considerados básicos para garantir a integridade física dos alunos: a instalação de câmeras externas e internas, a existência de porteiros ou seguranças, um controle de acesso eficaz e o monitoramento dos alunos problemáticos. Embora os colégios particulares brasileiros deixem bastante a desejar quando comparados com os de Madri, Londres ou Nova York (ver tabelas), o que mais impressiona é a diferença abissal entre os números do ensino público e privado no país.
Uma pesquisa realizada pela RCI First Security and Intelligence Advising, empresa de segurança privada sediada em Nova York, responsável pela elaboração de diversos projetos de segurança para colégios e universidades dos Estados Unidos nos últimos cinco anos, escancarou algumas carências das escolas brasileiras. Enquanto 17,8% das escolas públicas do Brasil têm algum tipo de câmera de segurança (8,4% também têm câmeras externas), o número sobe para 72% nas particulares (25,8% externas) – o monitoramento acontece em apenas 1,8% das escolas públicas e em 38,1% das particulares.
Os números são endossados por informações do governo de São Paulo, um dos estados mais bem equipados do Brasil. Das quase 5.300 escolas estaduais paulistas, cerca de 400 possuem algum tipo de câmera (7,5%). Outras 300 devem ganhar o sistema nos próximos meses. Nas escolas municipais, as câmeras estão instaladas em 397 das 2.494 unidades (15%).
O controle de acesso feito por seguranças, porteiros ou os chamados bedéis existe em 73,8% das escolas públicas e em 99,9% das particulares (especialistas em segurança não trabalham com o número 100%). Cartões magnéticos ou catracas estão presentes em 2,1% das públicas e 38,7% das particulares. A biometria, principalmente com impressão digital já existe em 0,05% e 7,5%, respectivamente. São Paulo têm 23.000 agentes estaduais (média de quatro para cada escola) que – entre outras funções – coordenam a entrada e a saída de estudantes.

O Brasil e o mundo – Outra revelação da pesquisa da RCI First: no Brasil, ao contrário de outros países do mundo, é imensa a diferença entre a segurança nas instituições de ensino públicas e nas particulares. Em cidades como Londres, Madri e Hamburgo, expostas ao risco permanente de atentados terroristas, 89,2% dos colégios públicos e 92,1% dos particulares têm câmeras de segurança. Nos dois casos, o controle de acesso é de 99,9%. Nas escolas americanas, preocupadas principalmente com episódios semelhantes ao da escola Tasso da Silveira, em Realengo, as câmeras estão em 78,6% e 85,2% das escolas públicas e particulares, respectivamente. Os projetos de análise e gestão de risco, em 97,6% e 97,7%, e o banco de dados dos alunos problemáticos existe em 83,8% e 84,3% dos colégios.
“O ideal é que uma escola tenha pelo menos dois desses sistemas integrados”, afirma Ricardo Chilelli, especialista em análise e gestão de risco e diretor-presidente da RCI First. “A segurança feita por pessoas erra, mas consegue analisar as especificidades de cada caso. A tecnologia acerta, mas é fria.” Para Chilelli, a instalação de detectores de metal, como sugere o projeto de lei do deputado Sandro Mabel (PR-GO), é uma proposta “cara, invasiva, contraproducente e inviável”, típica daqueles que pouco entendem de segurança. “Será que as pessoas têm noção de quantos objetos de metal existem na mochila de um estudante?”, pergunta.
Outro equívoco evidente, segundo o especialista, é a realização de mais um plebiscito para saber se a população aprova ou não a comercialização de armas de fogo. “A arma não é o problema”, diz. “O problema é quem aperta o gatilho. É a mesma coisa que querer parar de vender automóveis por causa das mortes no trânsito. Essa campanha só servirá para desarmar o cidadão de bem.”
O caso de Realengo – Especialistas em segurança garantem que, caso houvesse professores treinados para lidar com alunos problemáticos e um bom projeto de análise e gestão de risco, tragédias como a de Realengo, não seriam evitadas, mas suas conseqüências poderiam ter sido menos dramáticas. Além de mal posicionadas e com imagens pouco nítidas, as câmeras instaladas no colégio de Realengo não eram monitoradas, o que impediu a tomada rápida de decisões. Até a chegada da polícia, Wellington Menezes de Oliveira atirou livremente por 20 minutos. Mesmo que nem todas as mortes pudessem ser evitadas, algumas das doze crianças poderiam ter sobrevivido.
“As câmeras de segurança têm a função de inibir e prevenir o crime”, explica Chilelli. “No Brasil, elas estão sendo usadas para solucionar o crime e ajudar no reconhecimento dos criminosos.”
Wellington entrou na escola, caminhou até a biblioteca e seguiu tranquilamente para as salas de aula. Isso mostra a deficiência no controle de acesso. O matador também não teve assistência psicológica na época em que era estudante. Isso mostra que diretores, funcionários e corpo docente ainda estão longe de saber lidar com vítimas de bullying e pessoas com sintomas de desequilíbrio mental.
Bullying - Quase 13% das escolas particulares têm um banco de dados que monitora os alunos considerados problemáticos, de acordo com os dados da RCI First. Embora não se saiba de nenhuma escola pública que mantenha um registro físico desses estudantes, o monitoramento se baseia em conversas entre professores, funcionários e diretores. “Toda escola sabe quem pratica e quem sofre bullying, quem são os alunos extrovertidos, os mais calados, os problemáticos”, observa Chilelli. “A organização de encontros periódicos para falar sobre esse assunto cria um banco de dados informal tão eficiente quanto o computadorizado.”
Um estudo promovido pelo serviço secreto americano e divulgado pelo psiquiatra Timothy Brewerton indicou que nos últimos 66 ataques em escolas que aconteceram no mundo (70% deles nos Estados Unidos), 87% dos atiradores haviam sofrido bullying. Brewerton, que tratou de alguns sobreviventes do massacre de Columbine (no qual treze pessoas morreram em 1999), acredita que cabe aos educadores identificar crianças com transtornos comportamentais que possam desmbocar em violência. Essa opinião é avalizada por Marlene Snyder, diretora de desenvolvimento do programa anti-bullying do instituto Olweus, pioneiro no estudo e na prevenção de bullying nos EUA.
Para treinar os professores a lidar com o problema, o governo paulista preparou um Manual de Proteção Escolar e Promoção da Cidadania. “Uma vez que as crianças e adolescentes vítimas do bullying tendem a manifestar ansiedade, medo e baixa autoestima”, registra o trecho que trata do bullying, “existe a necessidade de uma atenção redobrada do corpo docente e funcional da escola e, caso sejam evidenciados sinais que apontem fragilidade emocional da vítima, a família deverá ser orientada a encaminhar a criança ou o adolescente ao devido acompanhamento terapêutico, buscando apoio também junto ao Conselho Tutelar, principalmente em relação aos agressores, para que sejam advertidos, visando assim a diminuir a repetição de tais comportamentos indesejáveis”. Cerca de 1.200 professores trabalham como mediadores de conflitos em mil escolas estaduais.
Embora o bullying seja uma das razões apontadas para o que aconteceu em Realengo, os reais motivos jamais serão identificados. E ainda não se sabe se casos como esse vão se repetir. Dias depois da tragédia, o professor e educador Julio Groppa Aquino, da Universidade de São Paulo (USP), advertiu: “O momento exige sobriedade e certo distanciamento, à moda dos antigos, de modo que seja possível decantar as informações, e não ser assediado por elas”. E concluiu: “Aos que creem no sobrenatural, cabe rezar pelos que foram. Aos demais, resta-nos apenas um nó na garganta, um nó que não desata”.

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