terça-feira, 6 de setembro de 2011

Brasil tem desmotivação policial ou gestão incompetente?


Esse texto tem aspectos ligados diretamente a realidade do nosso sistema de Segurança Pública, principalmente das dificuldades internas e externas que enfrentamos. Pensar sobre segurança pública é uma necessidade premente. Não há dignidade humana desatrelada do direito a segurança e isso inclui o direitos dos profissionais que trabalham e se submetem as duras provas diariamente. Muitas vezes perdemos a batalha para a violência, para a corrupção, perecemos e somos esquecidos. Chegamos tarde onde deveríamos estar onipresentes. Infelizmente a onipresença não é afeta a nós mortais, mas assim mesmo sentimos como se fosse nossa culpa. Mas será que é "somente" nossa culpa? 
Para pensar e refletir em sociedade.

Brasil tem desmotivação policial ou gestão incompetente

Por: Osvaldo Mattos (publicado em 23/08/2011 - www2.forumsegurança.org.br )

Todo ser humano necessita de motivações, quer seja no ambiente profissional ou na vida pessoal.
No caso das atividades de risco, este importante tema deve ser lembrado diariamente pelos gestores de comando e gerenciamento profissional.
Pensando bem sobre o assunto, resolvi escrever este artigo que destaca um momento muito particular que vivemos em relação a segurança pública. Que possa servir de reflexão para você que é inteligente e que como todo ser humano também é movido por motivações.
Os motivos pelos quais destaco os pontos a seguir são por perceber, convivendo com essa realidade policial, o quanto essa instituição é carente em vários aspectos, principalmente de uma história e de uma remuneração digna.

1. O grande efetivo dos policiais brasileiros são honestos, correm riscos constantes e ganham pouco.
2. Estes homens e mulheres são colocados diariamente nas ruas sem equipamentos de segurança adequados, com armamentos ultrapassados, treinamento insuficiente, reciclagem profissional quase que inexistente e péssima política de carreira e salários.
3. A grande maioria dos cabos, soldados e agentes de polícia moram em locais não condizentes com sua situação de agentes da lei, tendo como vizinhos marginais e traficantes.
4. Os quartéis e delegacias de policia são o exemplo maior do descaso e falta de respeito, antigos, mal tratados, sem conforto, ultrapassados e às vezes até sem condições de higiene.
5. Em alguns estados os policiais não recebem uniformes há mais de um ano e tem que trabalhar com as botas rasgadas, furadas e roupas esfarrapadas.
6. Existem policiais que só vieram a disparar um tiro após o término dos seus 6 meses de curso de formação, (caso dos praças), na rua e já em combate com os bandidos, ou seja no período de formação não conseguiram treinar por falta de verbas para comprar balas.
7. Os marginais a cada dia que passa têm menos respeito pelos policiais recebendo-os sempre à bala, assassinando e espancando quando identificam um policial nas ruas, mesmo que ele não esteja de serviço.
8. Os oficiais de alta patente e delegados cardeais que comandam as corporações são indicados por polí¬ticos e para garantirem os seus cargos, com gratificações, carros com motoristas e mordomias, evitam relatar a real situação de seus comandados para não gerar aborrecimentos aos governantes; resolvem sempre dizer que o necessário é comprar novas viaturas, criar e enfeitar grupos especiais e usar propaganda que o sistema está melhorando escondendo e modificando dados de violência. Sem falar às vezes que um policial é transferido ou desmoralizado por ter legalmente ferido os interesses políticos de alguns poderosos.
Ao longo de minha vida como filho, irmão, sobrinho, primo, cunhado de policiais; além de pesquisador do tema segurança há mais de 18 anos, tenho testemunhado e vivido situações extremamente constrangedoras, para exemplificar vou citar algumas:
Vários policiais já foram trabalhar sem conseguir tomar café da manhã com seus filhos e companheiros por falta do que comer; alguns policiais vivem com a família graças ao apoio de familiares e amigos, tenho amigos que moram de favor nos aposentos de empregadas de conhecidos, outros improvisam barracos em favelas, outros moram nas casas dos pais e alguns solteiros se submetem a morar em alojamentos imundos e mal cuidados dormindo em camas sem colchão ou até em chão forrados por papelão e pedaços de pano. Testemunhei viaturas paradas e sem poderem realizar rondas ostensivas por falta de pequenos consertos e com limitação de combustível. Várias recebem seguros irrisórios que não garantem nem um ano básico da família e sobrevivem com pensões que mal dão para se sustentar.
Os agentes de segurança pública brasileiros, arriscam suas vidas e dos seus familiares, diariamente, para prender infratores em flagrante delito, mas no outro dia esses marginais estão soltos nas ruas zombando dos policiais e praticando novos crimes, sem falar que às vezes terminam matando e ferindo os policiais que o prenderam. Por conta de uma impunidade constante e brechas jurídicas apoiados por advogados sem ética e financiados por marginais. Só para ilustrar no ano passado a policia prendeu em flagrante quase 200.000 pessoas e menos de 5% estão respondendo processo sendo a maioria em liberdade. A maioria dos assaltos, assassinatos, estupros e demais crimes são praticados por pessoas que já tinham passagem pela policia.
São inúmeros absurdos e descasos que os policiais são vítimas diariamente em todos os estados deste imenso país, uma realidade bem diferente de outros países que estão conseguindo reduzir os índices de violência. Temos uma política de total desmotivação policial.
É importante que a população tome conhecimento da realidade policial e, desta forma, possa participar, cobrando das autoridades uma maior valorização e qualificação da polícia e, conseqüentemente, possa exigir dela maiores responsabilidades.
Reflita que apesar de toda essa desmotivação a grande maioria dos nossos policiais continuam arriscando a vida, prendendo marginais, presentes em todos os recantos do Brasil.

(Osvaldo Matos- Publicitário, sociólogo e especialista em marketing e comércio exterior)

7 comentários:

  1. A realidade é simples de se mudar à partir da criação da carreira única, pois todos aqueles que desejam servir nas forças de segurança pública deveriam testar sua vocação desenvolvendo atividades nas bases e jamais começar uma carreira pelo topo. Tão somente na Polícia existe essa realidade, haja visto que nos grandes conglomerados privados jamais se encontrará um jovem com 20 anos a frente da presidência ou diretoria.
    Desta forma se o ingresso nas carreiras policiais não forem modificados as castas prevaleceram com mordomias, privilégios, sortilégios, etc.
    Mudança com o fim de que as corporações policiais possam acompanhar a contento a evolução da sociedade que ainda se vê obrigada a conviver com uma polícia militarizada em um estado democrático de direito!!

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  2. Caro Rogério:
    Muito importante seu chamamento para a reflexão...
    São mais que válidos os argumentos por você apontados. Refiro as adversidades enfrentadas por policiais, sejam eles de qualquer instituição, cargo/função ou esfera política (federais ou das 27 unidades federativas).
    Acredito, entretanto, que o "grande problema" da profissão policial (aqui posto por mim de maneira bastante simplista...) seja a "falta de identidade objetiva com a segurança pública", já que existe uma espécie de "subalternidade" imposta sobre as instituições policiais pela hegemonia da influência do judiciário sobre o "sistema de justiça criminal" como um todo. Ou seja, a importância da segurança pública e da defesa social, objetos próprios da atividade policial, é subalterna ao funcionamento e objetivos institucionais de um poder judiciário sabidamente alienado em relação aos "temas reais" da segurança pública e defesa social.
    Paradoxalmente, os órgãos e profissionais policiais, independente de sua performance e eficiência, estão permanentemente sujeitos a intensas críticas quanto ao estado da segurança pública. Pari passu, os órgãos e profissionais do judiciário, independente do efeito deletério de uma justiça "cheia de brechas" (inclusive a da morosidade, múltiplas possibilidades recursais e descompromisso com seus efeitos práticos sobre a criminalidade), é criticada apenas marginalmente pela sociedade.
    Assim, a "justiça cujo resultado se vê nas ruas" é tida erroneamente como fruto da ação policial, e não do sistema como um todo, particularmente do judiciário e da legislação correspondente.
    Isso produz um efeito deletério sobre o segmento policial como um todo, fazendo dele uma espécie de "prisioneiro do sistema", o que pode ser transposto, finalmente, para os próprios policiais, sua carreira, motivação e razão de existir...

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  3. Aos ignorantes que comentaram acima, os oficiais iniciam suas atividades em funções menores, supervisionadas por chefes mais experientes. Peguem a maioria dos QOAs, que vieram de baixo como dizem, e verão que não têm qualquer capacidade para liderar e administrar a Corporação em sua visão macro. Quando muito o fazem em suas repartições, nas quais passaram a vida toda, logo, tem a obrigação de saber pelo menos o que se passa lá. Carreira única é piada, quer ser oficial, estude e corra atrás, não fiquem querendo vida fácil criando essas porcarias de blogs.

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  4. Não acredito, mais um futuro candidato a Patrício...
    Internet é que nem papel, aceita qualquer coisa.

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  5. Caro George, parabéns pelas colocações precisas, obrigado pelo comentário inteligente e relevante que muito nos orgulha e engrandece nosso modesto espaço.
    Fico muito feliz em saber que essas reflexões alcancem pessoas como voce, espero sinceramente que continue a nos brindar com seus comentários impares bem como postagem de assuntos afetos a nossa segurança e profissionais que dela se servem.
    Aos demais que postaram, agradecemos pelas criticas porque aqui como espaco democratico, podemos discutir mesmo com opinioes contrarias. E quando quiserem participar inclusive com postagens a fim de enriquecer o debate, estejam vontade. Como "ignorantes" que somos, na`o nos preocupamos com os interesses de castas, cargos ou carreiras, portanto podemos e manteremos o anonimato se assim quiser, muito embora nossa "mediocre formacao acad^emica" nos lembre que nossa CF preve a livre manifesta'cao de pensamento, vedado o anonimato.

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  6. Completando o que o Rogério colocou, agradecemos realmente os comentários de todos e deixando sempre a disposição nosso espaço.
    Esclarecendo apenas que não temos partido ou ideologia, buscando apenas mudança de um contexto de segurança pública que não atende aos interesses da sociedade e nem da maioria dos policiais. O fato de sermos 'ignorantes' não nos permitiu criar um espaço com um perfil sobre nossa formação, até porque, achamos que os títulos, assim como nossas carreiras nas instituições não são importantes. Importante é o trabalho que fazemos.Continuem a nos brindar com suas participações.

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  7. Caros Rogério e Tânia:

    As considerações de vocês dois são muito apropriadas no tocante ao que deva caracterizar "espaços de discussão" para profissionais da segurança pública. - Parabéns!

    Reconheço a existência de temas candentes eventualmente levantados nesses mesmos espaços (como em algumas postagens anteriores), bem como as emoções que podem suscitar. Somos todos humanos e eventualmente "tomados pela emoção". Mas, feita essa ressalva e exceção, acredito que precisemos aproveitar muito objetivamente cada oportunidade disponível para discutirmos questões genéricas e específicas da segurança pública e que por muito tempo foram consideradas apenas em espaços de exclusão dos profissionais do setor.

    Precisamos, acredito, poder refletir e discutir com serenidade sobre um conhecimento integrado e que conjugue vertentes tão diversas como a política, a acadêmica e a técnico-profissional, entre tantas outras mais que existam. A elaboração e produção do conhecimento é uma atividade que demanda modéstia, menos como valor ético-afetivo, mas primordialmente como instrumento: a "modéstia/método".

    Entre os extremos da ignorância e da “verdade e certeza”, "privilégio” de poucos, estão a dúvida e a opinião, espécie de "vala comum" onde jaz a maioria de nós, mortais também comuns. Poder ter uma “opinião isenta”, todavia distante da “verdade e certeza”, parece algo “modesto”, mas que certamente não deixa de ser algo também “extraordinário”. Parabéns, novamente, por um espaço de discussão em que isso pode ser possível.

    Parabéns também pela elegância no trato com os autores (declarados e anônimos) das postagens.

    George Felipe

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